“A linguagem usada na internet, principalmente nos bate-papos, nos sites de relacionamento, como o próprio nome diz, busca um relacionamento. E, como toda forma de linguagem, busca interação. A linguagem da internet é um híbrido de fala com escrita, o próprio bate-papo indica um evento oral.”
– Marcos Bagno em entrevista para a revista Caros Amigos.
Muitos acusam a internet de denegrir o português. Os mais velhos ficam assustados ao ver símbolos e abreviações utilizadas em programas de comunicação instantânea na internet, blogs ou salas de bate-papo. Porém, o que eles se esquecem de observar que no meio de tantas novidades e “assassinatos” à língua portuguesa, está ocorrendo uma comunicação. E essa é a principal função da língua.
Muitos só conseguem associar a função de comunicação a algo mais material como o jornal e a televisão. Mas essa função é exercida primordialmente pela língua. Desde o momento que acordamos até a oração antes de dormir, se é que alguém aqui faz isso.
Outro caso interessante é o das pessoas que aceitam a nova linguagem de internet, mas acham que as abreviações e emoticons foram criados pela falta de tempo. Que pressa tem um estudante ocioso que sentou na frente do computador porque não tinha nada interessante na TV? Essa é a conclusão de cyberestressados, que tem problemas em administrar o seu tempo.
As abreviações surgiram porque são mais fáceis, reduzem o esforço na comunicação. E isso não é preguiça. Essa busca pela diminuição do esforço, é inerente ao ser humano. É a eterna corrida atrás do controle remoto. Vamos a um exemplo prático de redução de esforço na comunicação:
Quando ouvimos: “Os menino”, entendemos que há mais de um menino no contexto. É uma linguagem econômica, a qual nos deparamos todos os dias.
“Bicicreta, Framengo e chicrete”. Parecem palavrões. Talvez você considere burra a pessoa que fala assim. Então, me explique o porquê de falarmos “branco, escravo e prata”, se no latim e até mesmo no espanhol é “blanco, esclavo, plata”? Será que somos todos burros, ou só estamos no meio desse bolo que corre atrás de facilitar as coisas? O mesmo acontece na internet.
A “norma culta”, se é que existe uma, deve ser encarada como algo instituído para ambientes formais ou profissionais. Mas a língua, com as particularidades de cada região ou meio, deve ser sempre respeitada. Quando falamos em nos desprender de preconceitos, o preconceito lingüístico deve estar incluso nessa lista. Trate a língua como algo sem hierarquias, sem certo e errado. É mais simples do que parece. É simples como atravessar a rua, ao invés de olhar para cima e para baixo, olhe para os lados.
Luiz Henrique Nascimento – 29/02/2008
para o Clube de Criação do Vale do Paraíba
