Quase dois séculos depois, mundo corporativo desmente Gonçalves Dias

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Volta e meia nos pegamos em discussões sobre estrangeirismo na lingua. Maquiavel já se referia a destruição da intromissão na língua dos povos como uma excelente estratégia para conquistar e manter um povo submisso. No mundo corporativo isso é bem visível. Nas área de marketing e design essa intromissão ao idioma é as vezes até nescesária pela falta de palavras nativas com o mesmo significado. As próprias palavras “marketing” e “design” são um exemplo. Max Gehringer comentou sobre o assunto em sua coluna na CBN e fez um “remake” do poema de Gonçalves Dias Canção do exílio.

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Veja a transcrição
Clássicos do Mundo Corporativo: Quase dois séculos depois, mundo corporativo desmente Gonçalves Dias

No longínquo ano de 1843, o poeta maranhense Gonçalves Dias, escreveu a célebre “Canção do Exílio”. Aquele poema que diz: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.”

Na época, Gonçalves Dias não estava propriamente exilado. Ele havia mudado para Lisboa, para cursar a faculdade de Direito. Mas mesmo vivendo em um país onde se fala o mesmo idioma do Brasil, Gonçalves Dias teve aquele poético surto de saudade. Mal sabia ele, que quase dois séculos depois, muitos brasileiros iriam começar a ter saudade do tempo em que se falava português nas empresas brasileiras.

Se hoje, Gonçalves Dias fosse vivo, e trabalhasse por aqui, ele provavelmente escreveria um poema mais ou menos assim:

Minha empresa tem um office, onde manda o CEO,
Tem 10 vice-presidentes, cada um com assessor.
Nosso budget tem mais profit, nosso customer, relationship,
O manager tem notebook e o motoboy, tem um bip.

Minha empresa tem call center, stock option e bonus plan,
Tem happy hour de tarde, e breakfast de manhã.
O advertising tem mais recall, o marketing tem mais appeal,
Everybody diz yes, e nobody dá um piu.

Quase dois séculos depois, o mundo corporativo desmentiu Gonçalves Dias. Porque as aves que aqui gorjeiam, já estão gorjeando como lá.

Max Gehringer, para CBN.

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